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Biodanza

Sistema Rolando Toro

A Biodanza é um amplo sistema de integração e desenvolvimento da expressão das potencialidades humanas; tendo como objetivo principal a expansão e o fortalecimento da vida. Para isso ela se utiliza da música e de exercícios/jogos de comunicação em grupo para provocar vivências integradoras que levam a estados emocionais de profunda harmonização do eu. Com a prática regular em grupo semanal, uma vez por semana, seus efeitos são claros e visíveis: aumenta a resistência ao stress, eleva a resistência imunológica, estimula a resistência das funções neurovegetativas, promove gradual mudança no estilo de vida da pessoa; tornando-o alegre e criativo, favorecendo a criação cotidiana de um ambiente ecológico-afetivo.

Durante mais de dez anos trabalhando com a Biodanza em Petrópolis, pude testemunhar e acompanhar o florescimento de muitas pessoas que chegaram nos grupos com problemas diversos, desde a dificuldade de manter vínculos profundos nos relacionamentos afetivo-eróticos e/ou sociais, estados de acentuada depressão, a problemas crônicos psicossomáticos, como por exemplo, algum desconforto/tensão permanente em determinada parte do corpo (pescoço, abdômen, região facial, etc). A medida que a Biodanza estimula o corpo e suas funções motoras, também vai ampliando a capacidade de percepção e sensibilidade dos praticantes. Ela se propõe a ser uma prática de reaprendizado das funções originárias da vida. E em que consiste esse aprendizado? Entendemos que o desenvolvimento dos potenciais genéticos se realiza de acordo com a presença de ecofatores positivos sobre cinco grandes conjuntos de potencialidades: Vitalidade, Sexualidade, Criatividade, Afetividade e Transcendência, que são, na verdade, as cinco linhas de vivências em que trabalhamos as danças na Biodanza. O desenvolvimento dos potenciais genéticos dentro de um contexto ecológico, reativa as funções originárias da vida, como a expressão da capacidade de amar, de sentir alegria e coragem de viver; e também de devir, ou seja, de vir a ser (capacidade processual criativa na maneira de conduzir a vida).

O ambiente que construímos no grupo de Biodanza torna-se um poderoso núcleo afetivo disparador de devires que ativam valores que fortalecem a vida em sua máxima potência de realização. Compreendemos que a subjetividade contemporânea encontra-se fragilizada em função de valores anti-vida — bombardeados pela mídia e pela nova organização mundial capitalística —, que a vêm impregnando com ações competitivas e individualistas, esvaziando o espaço coletivo, ou seja; ações de transformação social e de cidadania. Félix Guattari (1990) enfatiza a vital importância de que se organizem novas práticas micropolíticas e microssociais, novas solidariedades, uma nova suavidade juntamente com novas práticas estéticas e analíticas das formações do inconsciente. A Biodanza, sem sombra de dúvida, se inscreve dentro dessa nova abordagem, como uma prática ético-política de resistência as ações /gestos que inibem a exuberância da vida.

 

 

Um pouco da história...

 

Conheci a Biodanza muito jovem, com 17/18 anos, eu morava em Petrópolis com minha família no final dos anos 80, quando Rolando Toro veio morar nessa cidade. A prática incrementou meu estilo de vida tornando-o mais alegre, comunicativo e criativo. Me encantei definitivamente pela Biodanza desejando me tornar facilitadora, e quando conheci Rolando Toro pessoalmente confirmei que estava no caminho/jornada da alma. Pude conviver com sua família nos tempos em que o criador morou na cidade, minha formação foi diretamente com ele, conjuntamente com outros facilitadores que pertenciam ao seu grupo docente. Além de ensinar a prática/teórica da Biodanza, Rolando Toro mostrava-se como um ser aberto efetivamente à presença do outro, um ser em alteridade — assim poderia descrevê-lo. Seus braços estendidos na direção das pessoas que se aproximavam dele refletiam atos de imensa generosidade e acolhimento. Um ser poético/afetivo e filosófico por natureza, um ser humano extraordinário, genial e extremamente cativador! Sinto-me privilegiada de ter conhecido Rolando e de ter podido conviver diretamente com seu modo de vida nos anos em que esteve morando em Petrópolis.

A Biodanza começou quando Rolando Toro em 1965 iniciou seus primeiros trabalhos de dança com pacientes psiquiátricos, no hospital psiquiátrico de Santiago do Chile. Nessa época era membro docente do Centro de Estudos de Antropologia Médica da Escola de Medicina da Universidade do Chile, dirigida pelo professor Francisco Hoffman. O objetivo desse trabalho era a verificação de diversas práticas de desenvolvimento que pudessem servir à humanização da Medicina. Foram utilizadas várias abordagens em psicoterapia (WAGNER apud TORO, 1991).

Durante as sessões iniciais de dança com os pacientes psiquiátricos. Na seção do hospital dirigida pelo professor Agustín Tellez, Toro (1991) verificou:

 

Observei que certas músicas tinham efeitos contraproducentes, pois os conduziam com facilidade a estados de transe. Nesses casos, as alucinações e delírios se acentuavam e podiam durar vários dias. Indubitavelmente, os enfermos que, por definição, tem uma identidade mal integrada, dissociavam-se ainda mais quando realizavam certos tipos de movimento. Selecionei, então, músicas e danças que pudessem reforçar a identidade. Propus também exercícios de contato para dar limite corporal e coesão. O resultado foi claro: muitos enfermos elevaram seu juízo da realidade, diminuíram as alucinações e aumentou a comunicação. Ficou assim desenhado o primeiro eixo para um modelo teórico que, com o tempo, foi se aperfeiçoando” (TORO, 1991, p. 6).

 

A partir dessas primeiras experimentações, Rolando Toro pode então aprofundar os trabalhos formalizando na Biodanza seu modelo operatório, nessa época, em 1971 a prática era chamada de Psicodança. Foi em meados de 1978 que Toro substituiu o nome de Psicodança para Biodanza, evoluindo progressivamente de uma visão antropocêntrica para uma visão biocêntrica do ser.

De lá para cá, com a ampliação dos núcleos de docência em vários países da América Latina e Europa, a Biodanza se consolidou como prática ético-política importante no desenvolvimento humano, com efeitos terapêuticos confirmados a medida que milhares de pessoas se beneficiaram e vêm se beneficiando efetivamente de seus métodos. Em 2001 Rolando Toro foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, bem merecida indicação por ter criado uma prática que efetivamente se insere na construção de um mundo orientado para o convívio pacífico com as diferenças.

Referências:

 

TORO, R. A. Teoria da Biodanza. Coletânea de Textos. Associação Latina Americana de Biodanza, 1991.

 

 

GUATTARI, F. As Três Ecologias. São Paulo: Papirus, 1990

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